Avanços do agronegócios



(fonteLeomar José Mess/Novo Tempo)
Uma das maneiras de contar a história do Brasil é pelos ciclos agrícolas que se sucederam na terra onde se plantando tudo dá. Do extrativismo primitivo do pau-brasil, nos primórdios da colonização, ao moderno agronegócio atual, cada ciclo criou sua civilização brasileira. A marca registrada de quase todas elas foi ter se erguido sobre monoculturas, quase sempre motivadas por bolhas artificiais de demandas externas que, uma vez estouradas, deixavam os agricultores nacionais quebrados. Foi assim sucessivamente com o pau-brasil, com a cana-de-açúcar e com o café. Em sua História das Civilizações, o francês Fernand Braudel (1902-1985) relata esses períodos de prosperidade exuberante logo seguidos de frustração e pobreza, não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina. "Essa realidade abrupta, instável e imprevisível sempre teve o poder destrutivo de desestabilizar toda a economia dos países", escreveu Braudel, para concluir, em seguida: "Os países latino-americanos só vão conseguir romper a condenação desses ciclos quando unirem agricultura movida a pesquisa, máquinas e grandes investimentos".
O moderno agronegócio brasileiro é justamente a feliz reunião de alta tecnologia, equipamentos de ponta e crédito farto. Por essa conjunção de fatores, o campo brasileiro reúne as condições materiais para escapar da maldição dos ciclos que tantas cicatrizes deixaram na história econômica das Américas. A atual civilização do campo reflete a solidez da base material sobre a qual está plantada. Da fronteira com o Uruguai ao Oiapoque, a agricultura e a pecuária possuem vários níveis de desenvolvimento e tamanho, mas uma característica em comum. As áreas de excelência ligadas ao mercado externo crescem em toneladas produzidas e em riqueza gerada a cada ano. Partes dos três Estados do Sul, de São Paulo, de Minas Gerais, da Região Centro-Oeste e de áreas cada vez maiores do Nordeste são uma das principais locomotivas da economia. Produzem, empregam, exportam, consomem e dão forma a uma nova civilização.
O novo avanço do setor exportador baseado no agronegócio está até turvando as linhas da fronteira do que antes separava o mundo rural do mundo urbano. "Essas classificações estão anacrônicas e obsoletas", concorda José Eli da Veiga, professor de economia da Universidade de São Paulo. Diz Lúcia Lippi Oliveira, pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas: "O homem do campo era visto como um coitado porque tinha de ir a São Paulo e Rio de Janeiro para saber das coisas. Isso mudou. O sucesso do agronegócio fez com que o atrasado de ontem se tornasse o globalizado de hoje". É verdade. O agricultor de soja perdido no interior de Mato Grosso está mais próximo do Primeiro Mundo, a cujas bolsas de mercadorias ele se liga instantaneamente por internet, do que a dona-de-casa que compra uma lata de óleo de soja na prateleira de um supermercado da capital.
Entre 1990 e 2002, o PIB agropecuário cresceu numa média de 3,20%, enquanto a economia como um todo ficou em 2,70%. Nos últimos cinco anos, o ritmo de crescimento do setor foi quase o dobro do registrado pelo país. Os agricultores brasileiros são os mais competitivos na produção de açúcar, soja, algodão e laranja. O país já é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango. Junto, o agronegócio representa cerca de 35% da economia brasileira. O Brasil só não é o maior exportador de produtos agrícolas do mundo porque os Estados Unidos e a União Européia entopem seus produtores de subsídios e depois despejam seus produtos no mercado internacional.
(fonte: https://www.google.com.br/search?q=história+agrária&h)
No interior, os beneficiários da riqueza que sai do solo extrapolam em muito o universo das fazendas. A riqueza do campo está criando uma classe endinheirada bem longe das porteiras. O que acontece no Brasil hoje comprova as pesquisas acadêmicas mais recentes sobre os impactos do agronegócio na economia como um todo. A idéia de que a grande lavoura beneficiava um número reduzido de pessoas e que a melhor arma contra a pobreza era única e exclusivamente a agricultura familiar está caindo por terra. Toda vez que a produção agrícola de um país em desenvolvimento cresce 1%, a renda dos mais pobres aumenta em uma proporção maior, 1,6%. "Durante anos, investimos maciçamente em agricultura familiar, mas hoje sabemos que as grandes propriedades têm igual poder de criação de empregos", disse a VEJA Kevin Cleaver, diretor do departamento de desenvolvimento rural do Banco Mundial.

Fonte: http://veja.abril.com.br/290904/p_088.html

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